segunda-feira, 22 de junho de 2009

A Maldição da Kombi branca

Uma das coisas que mais gosto de fazer no mundo é dirigir.
Dirigir na noite de São Paulo me tranquiliza, me faz sorrir. Me lembra da minha infância, de quando a família passeava de noite, e íamos os quatro filhos malocados no banco de trás, rindo e cantando ao som da fita gasta dos Beatles que meu pai escutava desde que me entendo por gente.
Vez ou outra meu pai virava um tapa em quem pegasse, pra ver se a gente sossegava um pouco (acho que dirigir com quatro crianças no carro não era tão agradável pra ele!).
Várias vezes eu me perdia na janela, olhando as ruas vazias passando rápido. Poucas pessoas andando, poucos carros trafegando, e todos muito mais tranquilos do que com a pressa e tensão habituais durante o dia.
Adoro dirigir!
Mas, dirijo há pouco tempo. Quando comecei, ainda me preocupava muito mais em fazer tudo certo, não atrapalhar ninguém, prestar atenção em tudo e "perceber o carro" pra saber a hora de mudar a marcha. Minha maior preocupação era saber a hora de mudar a marcha, e me irritava quando alguém dizia "você vai sentir, isso vai ficando automático!". Durante minhas aulas, já me via largando minha carreira e criando um método novo de ensino para novos motoristas. Meu professor não tinha didática nenhuma! Mas, ainda assim, era melhor do que a véia ranzinza da mãe dele, dona da Auto Escola. Fiz um pedido para não pegar aquela mulher (ela me dava medo) e tive que aceitar o filho que, afinal, era a melhor opção. Apesar de tudo, o cara era bonzinho e tinha muito otimismo quanto a eu (que nunca tinha nem ligado um carro na vida!) ser capaz de não fazer nenhuma cagada e conseguir sair andando pela cidade numa boa (Tudo bem que era uma cidade pequena, que não tem nem semáforo, mas ainda assim, não achava tão prudente me soltar tão crua no meio das pessoas).
Aos poucos, fui percebendo que eu levava um certo jeito para a coisa e que o meu maior problema era não ter medo e gostar de correr, além da dificuldade inicial e já superada com as ladeiras, e do meu problema com balizas (típico de mulherzinha!).

OK! Carteira na mão, dirigindo em São Paulo!
Eu consigo achar beleza na minha cidade, mas a rotina do trânsito é caótica mesmo, e não há como fugir.
Já sou infinitamente mais malandra dirigindo. Tão malandra que já percebo que o problema maior são os outros! Os loucos apressados e impacientes. Os lerdos "nem aí" pro mundo. Os pentelhos que te ultrapassam para andar mais devagar que você. Os indecisos que não conseguem decidir qual faixa preferem e resolvem que melhor mesmo é andar entre as duas. Os taxistas donos da rua. Os caminhoneiros assassinos. Os motoqueiros suicidas. Os cachorros de rua suicidas. Os pedestres suicidas. E, (por que não?) na minha vizinhança, até as pombas suicidas!

Hoje vejo que minha maior dificuldade é controlar minha irritação diante de todos esses testes de sanidade.
Tenho certeza de que várias coisas só acontecem comigo. Aprendi a NUNCA me meter com ônibus. Sei que dentre os milhões de motoqueiros em São Paulo, o da minha frente é sempre aquele que deve ganhar por hora e que resolve não pegar a via imaginária das motos, entre as pistas um e dois, e vem na via normal, a irritantes 30km/h!
Já aprendi a adivinhar quando um cara vai mudar de pista do nada na minha frente e só dar a seta durante o movimento. É sério, o cara dá sinais antes de fazer isso, e eu já aprendi a tirar o pé e deixar o pentelho passar, tentando só usar palavras bonitas para me referir à ele. Afinal, meu objetivo é me manter tranquila (pelo menos tentar!).

Porém..... há algo no trânsito de São Paulo que me intriga, me tira do sério e que vejo como um mistério ainda por ser desvendado. Talvez, uma das maiores lendas urbanas de nossos tempos!
Não importa de onde você veio, para onde você vai, ou se vai simplesmente devolver o filme na locadora, logo ali na esquina: SEMPRE VAI HAVER UMA MALDITA KOMBI BRANCA NO SEU CAMINHO!

Preciso dizer aqui que sempre simpatizei com as Kombi. A Perua do Tio Walter, na escola, era uma Kombi. Nas férias com a família no Rio, em 91, meu tio alugou uma Kombi (ficou traumatizado pq no ano anterior saíamos em 8 pessoas num carro com uma porta que não fechava direito. E a cada 5 minutos passava um carioca gentil soltando um: "Bi, biii - A porrrta!". - E não é que a maldita Kombi quebrou no meio do túnel Rebouças! Sim, eu já estive em uma Kombi branca no caminho de alguém!).
Mas, mesmo com este histórico com as Kombi, ainda me intrigo com esse fenômeno que acontece nas ruas da minha cidade (e quiçá, mundo afora!).

Existem as variações. Elas podem ter algum adesivo, desenhos e/ou propaganda. Podem ter uma faixa pintada de outra cor. Podem estar vazias, ou carregando tanta coisa que deixam a porta semi aberta. E podem ter a porta de trás em versões azul ou amarela, e muitas vezes amassadas e com a ferrugem comendo solta. Ou até ter uma caçamba adaptada na parte traseira. Mas elas SEMPRE têm a mesma alma da Kombi branca original.
Até na ilha do Lost, gente! Tem que escolher um automóvel para enfiar na série, qual eles escolhem? A maldita Kombi branca (com a faixa azul)!!!!!

ELAS ESTÃO EM TODO LUGAR!!!!



O motorista da Kombi SEMPRE é um cara abusadinho, que gostaria de passar por cima de todo mundo, se pudesse. Mas, uma vez na sua frente, ele SEMPRE te bloqueia, te impedindo de andar mais rápido do que ele.
E que Deus te proteja se tiver que mudar de faixa na frente dele!

Eu tenho cá pra mim que o sujeito quando adquire uma Kombi branca deve receber junto um manual secreto de como dirigir ao mesmo tempo em que assombra a população comum. E acho que nesse manual devem vir instruções para intercomunicação entre os companheiros Kombeiros! Eles devem seguir uma ordem para se espalhar pela cidade, porque, apesar de sempre ter uma em seu caminho, é curioso que seja realmente UMA. É muito raro ter mais de uma em seu campo de visão. E quando finalmente sai uma da sua frente, não demora muito já vem outra em seu lugar!


(Olha aí! Não falei que elas estavam em TODO lugar!
Kombi branca com faixa preta - versão Lego.
A prova de que eles já são treinados desde pequenos!)

4 comentários:

  1. hahahahaah, cá! morri de rir!
    o F quer uma kombi branca, se tudo der certo, eu te empresto o manual.
    bjos

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  2. HAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAH
    Não é possíveeeel!!!! rs

    Bom, até que deve ser um investimento e tanto.
    Outro dia, uma das muitas que passaram por mim era bem bonitinha e era total flex!!!! haha

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  3. Ahahahaha...
    Cá que delícia seu lado cronista!
    ;-)

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  4. Kombi pra min e até 1975, com frente de calcinha!

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